AUTOR: Pr. Fernando Carneiro de Morais
A. INTRODUÇÃO:
Vivemos em um tempo de muita música. Os avanços tecnológicos têm facilitado tanto a produção como a distribuição de material musical as pessoas. Com apenas um computador, você pode gravar um CD com relativa qualidade. Estamos imersos no mundo da música. Há música em casa, na escola, na televisão, nos restaurantes, nos “shoppings”, pela rua e em todo lugar. Mesmo assim, o período de cânticos nas nossas aulas muitas vezes tem sido um desastre. Tradicionalmente, os evangélicos sempre foram um povo que souberam utilizar bem a música. Desde Lutero, que revolucionou a música sacra, trazendo a música popular para dentro do culto, muito tem acontecido na área musical da igreja.
Hoje vivemos um tempo de consumismo exacerbado, até mesmo dentro das igrejas. Muitas bandas e cantores evangélicos vendem sua música, inclusive para as crianças, sem muito critério de qualidade musical ou profundidade teológica na poesia. Onde nós, professores de crianças, ficamos em tudo isso? Entramos nessa onda e vamos usando todo tipo de material ou nos colocamos em posição defensiva, insistindo nas mesmas músicas que sempre foram utilizadas com as crianças? Será que existe um ponto de equilíbrio em tudo isso? Como podemos atrair as crianças de hoje com músicas que, além de encantadoras, contenham a mensagem que queremos transmitir? É o que vamos discutir em nosso seminário.
1. Base Bíblica.
A Bíblia fala em vários lugares sobre cantar, louvar e adorar ao Senhor, porém há um trecho em especial onde aparecem crianças louvando a Jesus. Em Mateus 21:15 encontramos Jesus no templo e crianças gritando: “Hosana ao Filho de Davi!” Quando questionado pelos sacerdotes e escribas, Jesus cita o Salmo 8:1 e 2 e nos premia com uma das declarações mais lindas da Bíblia: “Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor.” Isto nos dá a entender de que é possível a criança, mesmo pequenina, louvar e adorar ao Senhor. Perceba a alegria das crianças em louvarem a Jesus, elas estavam gritando de tão animadas. Perceba também a verdade proferida por elas, verdade que muitos adultos ainda não tinham compreendido.
2. Os cânticos na aula.
Em primeiro lugar, vamos definir de que cânticos nós estamos falando. Os cânticos usados durante a aula são diferentes das músicas que usamos para um coral infantil ou outras apresentações musicais. Eles devem ter algumas características, as quais relacionamos a seguir:
a) Melodia simples.
Uma linha melódica simples e fácil de se aprender, que não exija muito esforço para se cantar. Sem saltos demasiados e em uma tessitura adequada às crianças. Que seja agradável o suficiente para que a criança tenha vontade de cantar.
b) Relativamente curtos.
Canções muito compridas se tornam cansativas. Conforme a idade das crianças varia o tamanho do cântico. Crianças menores, cânticos menores e crianças maiores, cânticos maiores.
c) Fáceis de decorar.
Os melhores cânticos para uma aula são aqueles fáceis de aprender. Se ensinados na classe, a criança, ao chegar em casa, consegue cantar para a família, pelo menos o estribilho.
d) Mensagem bíblica e clara.
A letra do cântico deve conter verdades bíblicas. Não deve ter elementos duvidosos ou que não podem ser provados pela Palavra de Deus. A letra também deve ser clara o suficiente para que a criança compreenda o que está cantando.
B. ATRAÇÃO
A criança não canta por obrigação, mas o faz por prazer. Para ela é natural cantar quando está alegre, quando está brincando ou fazendo outras coisas de que gostam. Porém, não são todas as músicas que atraem a criança e não são todas as crianças atraídas pelo mesmo tipo de música. Depende muito da vivência musical de cada uma. A família, a escola e a televisão são alguns dos fatores que influenciam no seu gosto musical. Quando ela chega para o período de cânticos, ela tem algumas expectativas do que vai acontecer. Nós, professores, também temos algumas expectativas deste período. Deus também. Como fazer para todas as expectativas envolvidas se harmonizem e tornem o período de cânticos agradável e atraente para todos?
1. Expectativas:
a) O que a criança espera do período de cânticos.
(1) Que seja prazeroso.
Não há nada pior para a criança do que ser obrigada a fazer algo que ela não goste ou que ache chato. Lógico que na vida nem tudo é prazeroso, porém cantar não deve nunca parecer chato ou monótono. A criança precisa sentir prazer no que faz. Ela espera vibrar quando canta e não quer ouvir bronca de que está cantando baixinho, que está desanimada ou desafinada. Se ela não achar graça na música, ela automaticamente se inibe em cantar.
(2) Que seja possível a sua participação.
Também é muito difícil a criança se interessar por cânticos que não consiga cantar. Seja porque a melodia está numa tessitura inadequada, a letra é tão complicada que ela não consegue pronunciar ou o cartaz está tão ilegível que ela não consegue ler. Se ela não consegue acompanhar, perderá o estímulo de cantar. Criança também não gosta muito de sentar quieta para ouvir música. Ela não tem muita paciência de assistir grupos musicais se apresentando, a não ser que haja todo um esquema para ela se interessar, como um show.
(3) Que ela possa se expressar através dos cânticos.
A música deve falar o que a criança sente, tanto no aspecto musical, como poético. Se for uma música que não tem nada a ver com a realidade dela, ela logo se desinteressará. Uma letra fora do contexto infantil acabará por fazê-la viajar e não prestar atenção no que está fazendo. Ela precisa sentir que o cântico faz parte do seu mundo e que a poesia fala sobre o que ela sente.
(4) Que contenha elementos conhecidos.
Um momento de cânticos onde tudo é novo, fica complicado para a criança. A não ser que seja a primeira vez dela na classe, a criança quer ouvir e cantar o que já é conhecido. Criança gosta de repetição. E quanto mais nova ela for, mais repetição deve haver. Devemos ensinar cânticos novos, porém sempre temos de cantar os já conhecidos. A poesia deve falar do que a criança conhece. Se ela não sabe o significado do que está cantando, logo ela vai perder o interesse. Não que tudo tenha de ser conhecido, mas deve haver pontos que remetam a momentos anteriores.
b) O que o professor espera do período de cânticos.
(1) Que todas as crianças participem com interesse.
É evidente que o professor quer que todas as crianças cantem e participem com alegria do momento de cânticos. É frustrante ver crianças desatentas ou desanimadas durante este período. Não há nada mais gratificante que ver o rostinho brilhando, enquanto cantam e louvam a Deus.
(2) Que auxilie os demais períodos da aula.
O professor espera que os cânticos levem ao louvor e à adoração. E que ajudem com a reverência na oração, na atenção para a lição bíblica, na animação para os concursos, no interesse por missões, e assim criar o clima para cada período da aula.
(3) Que haja praticidade na sua elaboração.
Hoje em dia o professor não dispõe de tanto tempo para preparar sua aula. Ele quer tudo pronto. Quando ele pensa nos cânticos, ele gostaria de receber os visuais já preparados e os cânticos gravados com play-back.
c) O que Deus espera do período de cânticos.
(1) Ser adorado e louvado dignamente.
No Salmo 108, Davi diz que quer cantar e entoar louvores de toda a sua alma. Deus procura verdadeiros adoradores que o adorem em espírito e em verdade (João 4:23). As crianças podem ser verdadeiros adoradores.
(2) Corações quebrantados.
No Salmo 137, vemos o povo chorando e pendurando suas harpas nos salgueiros da Babilônia, pois eles não suportavam cantar mais os cânticos de Sião. Sentiam uma profunda saudade da pátria. Deus utiliza-se do poder da música para quebrantar os corações. A mensagem divina aliada à música pode tocar profundamente a vida das crianças.